hoje eu acordei e,
apavorado,
percebi que
minha pele
transbordava
o sangue
que é
diáriamente
catalizado pelos
olhos.
tudo o que é
sólido
tornou-se
evidência
para o crime
que eu sonhava em
cometer.
vi meus dedos derreterem
bem à minha frente
e agora eu já não
poderia mais
criar
ou ser
mais
do
que
um
simplório
escritor
assassino.
a caneta;
a pobre
caneta,
- já que
insuficientes os
dedos são -
serviria de arma
e de
carro
de fuga.
apunhalar-lhes-ei
com a caneta.
manchar-lhes-ei
com o azul
que insiste
em imaginar-se
existente.
e, quando eles
se virarem e
virem que quem
realmente os
matou e
sujou
- de azul -
é esse
pobre
escritor,
não restará
mais
numerosos
microfones
donde
possam tirar
proveito
da ignorância
alheia.
seu sangue
manchado
de
azul
- da caneta
global -
oscilará incandescente
no interior de
suas
já tão manchadas
cabeças, e,
assim,
só assim,
poderei
filtrar meu
sangue
e esfregar
meus poros
com
qualquer
diamante
que
(ninguém)
quiser.


