mesmo em pleno conflito,
quando pálido persegue aflito
e já não há mais ritos que unam
ou generais que punam
aos desditos da guerra,
inda é da rubra terra d'onde
floresce a tenra e boa ventura;
e quem padece de amargura
e se esquece de procurar razão
na vida, inda que obscura,
finda sem achar conexão
entre a chave e a fechadura
da nave que carrega alma
pra lá dessa cega falta de lisura.
o que com má ventura se rasga,
com boa ventura se costura,
só não vá muito atrás da fissura!
mas qual é o preço do acaso?
depende do peso do laço
que enforca os impulsos
e prende os traços difusos
da retórica de uso honorário
que tende ao lado contrário
aos passos ditados por tratos;
e se de contratos e afetos
fossem cria verdade e fortuna,
não haveria tratado ou decreto
capaz da metade ou do resto
que faz da vontade aventura;
de genuíno e honesto só restaria
o gesto indigesto da abreviatura.
a vil desventura se arrasta;
mas a mil a ventura ultrapassa
à agrura, e a doçura se alastra...
aqueles que à ternura abraçam,
e à fúria resolvem sozinha deixar,
não chovem na linha que traçam
nem dormem em qualquer lugar;
não perdem o atalho pra casa
pois sabem o trabalho que dá
encontrar agasalho de graça;
já os que têm medo da caça,
e tremem quando a fome cobra,
se abstém do veneno das cobras
porém vêm vivendo de praças,
de sobras, de credo sem obras,
sabendo que as asas que cortam
são próprias — e essas não voltam.
a cópia da boa ventura não basta:
se finge de contra-cultura da massa,
mas não tinge e nem cura desgraça...